Renato J. Costa Valladares, Professor e Escritor, é Doutor em Ciências e Mestre em Matemática.
RIO [ ABN NEWS ] — Prezado leitor, em vez de falar sobre Matemática hoje vou falar sobre instituições em que, além desta ciência, quase todas as áreas do conhecimento humano são estudadas lá. Trata-se da Universidade e demais instituições de ensino superior. Digo sem medo de errar que em um mundo de 7 bilhões de habitantes, quase 1 bilhão deles teve alguma relação com uma destas instituições. Quase todos que integram este imenso grupamento tiveram suas vidas significativamente melhoradas. E não se deve esperar menos da Universidade, pois lá se dá tratamento científico a quase tudo que as pessoas podem conceber.
Devido à sua importância uma Universidade nunca poderia ser fechada. Se houver má gestão por parte de dirigentes eles devem ser orientados, afastados ou punidos. Se uma instituição for mal, devem- se encontrar maneiras de repor e manter o bom andamento das atividades acadêmicas. O tripé universitário “ensino, pesquisa e extensão” deve ficar acima de qualquer mazela.
Não há duas instituições iguais. Cada uma delas tem detalhes que a diferencia das outras. Duas matérias que formem o mesmo curso são ministradas de forma diferente em escolas diferentes. Cursos da mesma Instituição ministrados em lugares diferentes assimilam diferenças locais e os cursos podem ficar diferentes.
A coordenação de curso formula as ementas das matérias pertinentes. Cada professor ao receber a ementa que vai ministrar, formula o programa que detalha a matéria da forma mais adequada ao seu jeito de trabalhar. Por este motivo se dois professores ministrarem a mesma ementa em turmas diferentes, é possível que haja diferenças entre as matérias ensinadas por cada professor. Há também o caso de o mesmo professor ensinar detalhes diferentes a turmas diferentes.
Isto é conhecido como “autonomia universitária” que se inicia com grandes diferenças entre Universidades e vai até a diferença de detalhes entre professores da mesma matéria na mesma universidade. Talvez o leitor ache isto estranho ou mesmo inadequado. Entretanto esta é uma boa forma de entusiasmar o professor, levando-o à pesquisa, ao estudo e aos processos de ensino e aprendizagem mais adequados a cada situação. Isto é tudo que a Universidade deseja.
Assim, se um estudante fizer 4 períodos em X e for concluir seus estudos em Y, certamente haverá matérias de Y que ainda não foram ensinadas em X e vice-versa. Isto significa que o estudante terá que fazer as matérias de Y que não foram estudadas em X. Como X e Y têm fluxogramas diferentes, há a possibilidade de o estudante não poder cursar todas as matérias do 5º período de Y. Juntando este problema com as inevitáveis cadeias de requisitos é grande a chance de haver um atraso de 1, 2 ou mais períodos. Em síntese, a transferência de universidades é uma tarefa complexa que quase sempre prejudica o estudante. Este é mais um motivo para que não se feche universidades, pois neste caso haverá uma grande quantidade de estudantes mudando de instituição.
Infelizmente isto não acontece. Eu já vivi a deterioração de uma Universidade. Em 1996 fui convidado a participar de um mestrado que estava sendo implantado. A ideia era boa, mas daria muito trabalho. O inusitado da proposta impunha a necessidade de mostrar que o mestrado era viável. Apesar das dificuldades aceitei o convite e pus mãos à obra ladeando um inesquecível grupo de professoras e professores. Aos poucos nosso trabalho foi sendo reconhecido. Andávamos em passos lentos, mas seguros. O século XXI estava chegando e acenava as melhores perspectivas. Justamente nesta época a instituição estava entrando em uma grave crise econômica. No início acreditamos que a crise seria superada. Não foi e a situação se agravou rapidamente. Por outro lado o mestrado cada vez mais se impunha e finalmente foi aceito pelos órgãos públicos de praxe. Em fim, começamos com quase nada e conseguimos tudo. A crise reduziu o tudo a nada e rapidamente o trabalho dos professores e o empenho dos alunos ficou perdido. Não apareceu nenhum órgão público para defender tantas conquistas importantes.
O tempo passou e eu já estava quase acreditando que nunca mais veria o abandono de uma Universidade. Enganei-me. Hoje estou vendo duas delas sendo fechadas na cidade do Rio de Janeiro. O Brasil está com falta de médicos e engenheiros e estas instituições têm cursos de medicina e engenharia. Entre muitas maneiras de solucionar os problemas das instituições o poder público escolheu o pior. O fechamento das instituições.
O leitor interessado pode entrar em contato com o autor no e-mail: rjcvalladares@gmail.com