Renato J. Costa Valladares, Professor e Escritor, é Doutor em Ciências e Mestre em Matemática.
RIO [ ABN NEWS ] — Ao acordar no domingo 02 de fevereiro achei que seria bom falar, mais uma vez, no binômio “Matemática e Imprensa”. Os comunicadores que fazem a imprensa têm formação universitária completamente diferente de licenciaturas ou bacharelados em Matemática. Apesar disso há uma forte relação entre estas duas atividades. Por um lado, a Matemática tem um grande poder comunicador. Por outro lado jornalistas, publicitários e outros comunicadores expõem, por dever de ofício, seu trabalho a todo mundo. Isso deixa claro o uso que eles fazem da Matemática. Como em geral estes profissionais não estudaram Matemática na Universidade, estão par a par com milhões de brasileiros que encerraram seus estudos matemáticos, ao término do ensino médio. Como a situação não é muito diferente no resto do Mundo, os milhões acima ficam muito maiores. Assim sendo, o estudo do comunicador é uma amostra importante sobre o uso de Matemática por pessoas que não estudaram o assunto em nível universitário.
Como em cada edição de um jornal há sempre um recurso matemático, comecei minha leitura atento para estas coisas. Em pouco tempo encontrei uma reportagem que falava sobre a importância de prestar atenção à própria atenção. Isto é, o jornal estava aplicando o conceito “prestar atenção” ao próprio conceito.
A Matemática lida rotineiramente com este tipo de questão. Logo no início dos estudos uma criança aprende a lidar com os números e as quatro operações. Pouco tempo depois os números começam a variar. Por exemplo, o dinheiro no bolso de uma pessoa varia muito. De manhã o valor é um, logo depois paga uma passagem, faz um lanche, pega dinheiro no caixa eletrônico. Pelos mais variados motivos a quantia no bolso muda. A velocidade de um carro também varia ao longo do dia. Há variações lentas como o passar da idade e da altura.
Um dos recursos para estudar os números que variam é a “função”. Diz-se neste caso que os números são o contexto e as funções são o texto. Entretanto as funções têm características importantes. Logo aparece o contexto das funções e cria-se a necessidade de um novo texto, que também é composto por funções. Com a sucessão de contextos e textos outras funções estudam as funções iniciais. É fato bem sabido que a superposição de conceitos similares dá origem a paradoxos. Em breve vamos escrever um artigo e voltaremos a este assunto para discutir alguns paradoxos.
Voltemos ao jornal em que vimos a “atenção sobre atenção”. No caderno de Niterói (cidade onde moro) li a seguinte manchete: “Prefeitura quer aumentar gabaritos”. O tema é polêmico e interessante. Cada pessoa tem uma visão própria para entender e interpretar o assunto. Por coincidência há um condomínio, em construção, de alto padrão econômico em um bairro caro de Niterói. Para melhorar a coincidência, os prédios que formam o condomínio têm um gabarito muito baixo.
Ali estava a Imprensa fornecendo um tema relacionado com Matemática. O gabarito baixo e o custo alto dos apartamentos sugerem um modelo matemático sobre estas duas importantes quantidades. Eu vou escrever o modelo e, se couber em um artigo, ele será enviado ao leitor, por meio da ABN NEWS.
Para quem iniciou o domingo procurando um tema, as coisas estavam muito bem. Achei dois temas e nem precisei ler o caderno econômico. Este fiel escudeiro que sempre ajuda professores de Matemática – eu entre eles.
Quando falo em gabarito vem-me à memória o início de minha carreira docente quando conheci um colega que desempenhou papel importante na minha vida acadêmica e na de outros colegas também em início de carreira. Ele era arquiteto, estava na maturidade da vida e ensinava uma matéria geométrica destinada a estudantes de engenharia. Na universidade onde trabalhávamos não havia curso de arquitetura. Omissão que algum tempo depois foi corrigida.
Meu colega mais velho tinha uma visão bem pessoal a respeito dos gabaritos. Fazia restrições sobre o pequeno afastamento dos edifícios, uns dos outros. Achava que edifícios altos não deviam projetar suas sombras sobre as praias e mais um ou outro detalhe. Quanto ao mais ele dizia que o gabarito era um problema exclusivo do Cálculo Estrutural.
Completava seu raciocínio dizendo que para pessoas que quase nunca atingem a altura de dois metros, edifícios de 9, 15, 30 ou mais metros de altura não faziam a menor diferença.
Se o leitor quiser pode falar com o autor pelo e-mail rjcvalladares@gmail.com
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