ABBASIEH, LÍBANO [ ABN NEWS ] — Ali* e sua família estão vivendo seu terceiro inverno no Líbano, mas as lembranças de sua casa na cidade de Idlib, na Síria, não desaparecem. “Se pudéssemos voltar para casa, voltaríamos. Mas, enquanto os problemas continuam, não podemos”, disse o homem de 30 anos, relembrando o conflito na Síria. “Somos gratos aos libaneses.”
Ali, sua esposa e os três filhos, além de seu irmão mais novo, Ahmed*,também com sua família, vivem em um abrigo de apenas um cômodo na aldeia de Abbasieh, localizada perto da cidade de Tiro, no sul do Líbano.
Apesar da chuva que no inverno varre a lona plástica instalada no telhado de sua casa, que fica em uma colina, estas duas famílias têm mais sorte do que os quase 1,2 milhão de refugiados sírios em todo o Líbano. Eles vivem em um abrigo relativamente seguro onde pagam aluguel, além de serem empregados pelo proprietário da casa.
“Esta família merece muito”, disse Firas, o proprietário libanês que recebe das duas famílias cerca de US$ 265 por mês de aluguel pelo modesto alojamento, e que concordou em congelar o aluguel para o próximo ano. Os irmãos ganham em média US$ 330 por mês trabalhando nos campos próximos.
Mais de 80% dos refugiados sírios no Líbano – espalhados por cerca de 1.700 locais em todo o país – vivem de aluguel e pagam, em média, US$ 200 por mês. Não há campos de refugiados oficiais no país.
Apesar de a maioria dos refugiados alugar apartamentos, com o precarização das condições de vida, mais e mais pessoas tiveram de recorrer a edifícios inacabados, garagens, galpões abandonados, locais de trabalho e tendas em assentamentos informais. Melhorias estruturais são muitas vezes apenas de natureza temporária, devido à falta de autorização do governo ou proprietários para uma reforma mais substancial.
Ali, Ahmed e suas famílias estão entre os quase 140 mil refugiados sírios que vivem no sul do Líbano, enquanto a maioria está espalhada por todo o leste do Vale do Bekaa (412 mil), em torno de Beirute (339 mil) e na região norte (285 mil).
Pesquisas recentes do ACNUR apontaram que mais da metade de todos os refugiados sírios vivem em abrigos não tradicionais e isto é particularmente desafiador nos meses de inverno, quando a neve, chuva e enchentes aumentam sua dificuldade.
Este é o quarto ano que o ACNUR e seus parceiros distribuem assistência do inverno para refugiados sírios no Líbano. É uma grande operação, cujo planejamento e orçamento começam com meses de antecedência para garantir que, apesar dos múltiplos financiamentos e desafios logísticos, a maioria das necessidades sejam atendidas.
A assistência mensal de inverno está sendo fornecida desde novembro, incluindo assistência às famílias mais vulneráveis para comprar combustível para aquecimento, fogões, cobertores, kits de impermeabilização e outros itens necessários para manter as pessoas em local quente e seco.
Com apoio dos governos municipais libaneses, parceiros e voluntários entre os próprios refugiados, o ACNUR e outros cinco escritórios no Líbano também estabeleceram equipes de resposta interagencial, assim como mantém os estoques de suprimentos de emergência disponíveis em todo o país.
O programa de inverno prioriza refugiados previamente identificados como mais vulneráveis, começando com as famílias que vivem em áreas situadas acima de 500 metros de altitude, os que vivem em abrigos não seguros e aqueles que são economicamente vulneráveis. Centenas de milhares de pessoas, incluindo libaneses em situação de pobreza, estão recebendo algum tipo de assistência inverno.
Cuidadosamente planejada, a interagencial operação de inverno deste ano vai distribuir US$ 75 milhões em ajuda para refugiados e famílias libanesas carentes.
“Desde que os primeiros refugiados sírios cruzaram a fronteira do Líbano há quase quatro anos, as comunidades libanesas têm aumentado a sua hospitalidade em uma escala verdadeiramente impressionante”, disse a Representante do ACNUR no Líbano, Ninette Kelley, depois de conhecer as famílias de refugiados em Abbasieh.
“O Líbano enfrenta hoje um desafio sem precedentes para gerenciar tanto a sua própria população como os refugiados sírios. O país tem a maior concentração per capita de refugiados no mundo e um apoio mais global, assim como a adoção de um desenvolvimento a longo prazo, são urgentemente necessários.”
* Os nomes alterados por razões de proteção.
Por Brian Hansford em Abbasieh da Acnur no Líbano
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