Turno extra nas escolas libanesas oferece esperança para jovens e crianças sírias

Estudantes sírios participam de uma aula de “segundo turno” na Escola Vera Frangieh, em Zgharta, noroeste do Líbano.

Estudantes sírios participam de uma aula de “segundo turno” na Escola Vera Frangieh, em Zgharta, noroeste do Líbano.

 

ZGHARTA, LÍBANO [ ABN NEWS ] — “Maliki meu amor”, canta Omar, um jovem sírio. Essa é uma canção popular em árabe, mas a declaração de amor é para sua professora libanesa favorita, que também se chama Maliki.

Crianças de todas as partes da Síria tiveram suas infâncias interrompidas pela guerra em suas cidades natal. Para Omar, há agora um vislumbre de esperança. O refugiado é próspero em uma nova escola em Zgharta, norte do Líbano.

A escola é como um santuário para Omar e seus colegas – a arte das crianças enfeitam as paredes e os professores exalam simpatia e entusiasmo por seus alunos, apesar de fazerem turnos duplos para ajudar a lidar com a demanda extra.

Com aproximadamente 2,5 milhões de refugiados registrados na região, sendo quase metade com menos de 18 anos, a pressão para oferecer oportunidades de educação tem sido imensa. No Líbano, um terço dos mais de 930 mil refugiados sírios está em idade escolar primária.

Tentando acomodar os recém-chegados, as escolas locais atingiram o ponto de saturação e os novos alunos não conseguiram se matricular. “Vi as classes, em primeiro turno, onde não havia espaço para mais uma mesa”, disse Bathoul Ahmed, oficial de Informação Pública do ACNUR.

Uma solução para mais de 27 mil crianças sírias em todo Líbano foi encontrada nas 74 escolas libanesas que agora realizam um segundo turno para permitir que os jovens sírios continuem com sua formação. O programa foi testado na cidade de Arsal no ano passado e lançado por todo país em novembro pelo Ministério da Educação do Líbano, com apoio do ACNUR.

O êxito se dá devido à dedicação dos professores libaneses, como a favorita de Omar, Maliki, que garante que as crianças sírias recebam o mesmo nível de educação que seus colegas libaneses. Os alunos ainda recebem diplomas de escolas públicas libanesas, garantindo que sua educação é reconhecida.

Embora tenha sete anos, Omar nunca frequentou uma escola primária antes de matricular-se em Zgharta. Na sala de aula, ele se senta com sua irmã mais velha, Majed, que é sua protetora – dois de seus outros irmãos estão em outra classe. Estudar ajuda a pensar em outras coisas além de sua cidade natal de Homs, de onde fugiram há mais de um ano.

O fato de muitas crianças sírias ficarem fora das escolas por tanto tempo levou à introdução de programas de aceleração de aprendizagem para 15 mil estudantes, para tentar ajudá-los a recuperar alguns dos anos perdidos e colocar sua formação de volta aos trilhos.

Escolas que funcionam dois turnos oferecem aulas de árabe, francês, matemática, ciências, sociedade civil e geografia, e recebem alunos de seis a 14 anos. Após isso, é esperado que os alunos sejam suficientemente fluentes em francês para entrar no sistema de ensino secundário regular, menos lotado no país, caso desejem continuar seus estudos.

A língua francesa é popular com as crianças, esse é o assunto favorito de Omar. Ele absorveu muitas palavras e frases no mês em que frequentou a escola, chegando a recitar nomes de formas e números na frente da classe.

Com 270 mil crianças em idade escolar registradas pelo ACNUR no Líbano, ainda há muito trabalho a fazer. No mês passado, o ACNUR, a UNICEF, a ONG “Save the Children” e outras organizações parceiras solicitaram US$ 1 bilhão para a campanha “Sem Geração Perdida”, para financiar a entrega de uma estratégia para a educação e proteção das crianças afetadas pelo conflito sírio.

Ao longo do ano escolar de 2013-14, espera-se que mais dez outras escolas sejam abertas, oferecendo a 4.000 alunos refugiados em todo o Líbano a oportunidade de retomar os estudos. Se isso os fizer tão feliz como Omar, valerá a pena o valor de 650 dólares por ano, que é o que custa educar uma criança.

“Eu gosto muito da escola”, diz ele. Embora adore andar de bicicleta, não se pode comparar com as aulas: “Eu fico esperando até às 14h, até que eu posso ir à escola. Eu tenho alguns amigos – Ali e Ahmed e Hussein – mas eu prefiro os dias em que eu tenho aula”.

Em toda a região, por sua vez, mais de 550 mil crianças sírias estão matriculadas em atividades de aprendizagem nos países de acolhimento principais – Líbano, Iraque, Jordânia e Turquia. No Curdistão Iraquiano, o Ministério da Educação está oferecendo segundo turno em sete escolas na cidade de Erbil.

Por Emma Beals da Acnur em Zgharta, Líbano.

 


 


 

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