Nicias Ribeiro [*]
BELÉM DO PARÁ [ ABN NEWS ] — Por quatro semanas consecutivas o “Fantástico”, da Rede Globo, mostrou ao Brasil toda a extensão da Transamazônica, a BR-230, a partir da Paraíba até Lábrea, no Amazonas, num trabalho jornalístico fantástico, realizado por um repórter instalado com câmera e microfone num ultra-leve, acompanhado por uma equipe de apoio que viajou, por terra,toda a extensão daquela rodovia de mais de 3.000 Km.
O inusitado, é que pela primeira vez,num documentário deste tipo, a Transamazônica não foi adjetivada como sendo uma “obra faraônica” dos governos militares, da época do chamado “milagre brasileiro”. Desta vez, os repórteres ao se referirem a Transamazônica, disseram que era uma obra inacabada do governo federal, o que, sem dúvida, é uma verdade indiscutível e que bem retrata a irresponsabilidade dos governos que sucederam o do Presidente Médici por agirem com descaso, como se os recursos ali investidos não fossem da Nação.
Na verdade, para quem não sabe ou já se esqueceu, a Transamazônica foi inaugurada pelo Presidente Médici em 1972, em solenidade que ocorreu num monumento próximo a Cidade de Altamira, hoje totalmente abandonado e esquecido. Tempo em que, mesmo sendo uma es trada pioneira de chão, a Transamazônica permitia o tráfego de veículos a uma velocidade média de 80 Km/h com absoluta segurança, tal a qualidade da terraplenagem que, aliás, ainda se mantém até hoje em alguns trechos.
Realmente, como disse a reportagem do “Fantástico”, a Transamazônica é de fato “uma obra inacabada do governo federal”. E cuja pavimentação, por trechos, arrastam-se há décadas.
Hoje, como mostrou o “Fantástico”, a Transamazônica está pavimentada da Paraíba até o Maranhão. Daí em diante é uma estrada de chão até adentrar no Pará, após atravessar o rio Araguaia. A partir daí, tem 120 Km de asfalto até Marabá. Dali em diante é estrada de chão até a Cidade de Novo Repartimento, onde recomeça o asfalto que segue até próximo do rio Xingú, em Belo Monte do Pontal, onde tem uma balsa que atravessa os veículos. Do outro lado do Xingú tem asfalto até Altamira e de lá até Brasil Novo, apesar de todas as pontes desse trecho serem, ainda, de madeira. De Brasil Novo a Medicilândia tem asfalto em alguns pedaços, mas, daí até o distrito de Campos Verdes, em Itaituba, que equivale a 300 Km, tudo é estrada de chão. De Campos Verdes até o Distrito de Miritituba, tem 10 Km pavimentados. E da Cidade de Itaituba à Humaitá, 500 Km, tudo é estrada de chão e assim continua até Lábrea, no Sul do estado do Amazonas.
Na verdade, o referido documentário do “Fantástico”, mais do que mostrar que a “Transamazônica é uma obra inacabada do governo federal”, mostrou, principalmente, a falta de responsabilidade dos governos da República em não darem continuidade as obras iniciadas nos governos anteriores, como é o caso da Transamazônica, a BR-230, cuja abertura foi inaugurada em 1972 pelo Presidente Médici, portanto há 40 anos e que, até hoje, não foi pavimentada em toda a sua extensão, mesmo tendo, só em território paraense, uma população residente de aproximadamente hum milhão de pessoas e um rebanho bovino em torno de 500 mil cabeças;além de mais de 70 milhões de árvores de cacau plantadas e produzindo;mais de 5 milhões de árvores de café, do tipo robusta e conilon plantados e produzindos; além, é claro, de uma grande produção de milho, arroz, mandioca e outros produtos.
Ressalte-se, que na Transamazônica entre Altamira e Rurópolis existem grandes manchas de terra roxa de ph 4-4,5 e 5, que, obviamente, devem ser utilizadas em culturas nobres como o cacau e café; lembrando, ainda, que o cacau ali produzido é o de melhor qualidade,em face do seu grande teor de manteiga e alto ponto de fusão, e que, apesar disso, é classificado como “refugo”, devido a grande umidade da região e ao deficiente processo de secagem das amêndoas, graças ao insuficiente número de barcaças.
Essa é a Transamazônica de tantos brasileiros que, nos anos 70, deixaram os seus Estados para virem ocupar as “terras sem homens da Amazônia” e que, vergonhosamente, diferente do que sonharam, sofreram ontem e continuam sofrendo, ainda, na Transamargura de hoje, e sabe-se Deus até quando.
[*] Nicias Ribeiro, Especialista em Energias, é Articulista e Engenheiro Eletrônico.
Read more A Globo e a Transamargura – Artigo de Nicias Ribeiro