Formação matemática do cidadão

Professor Doutor Renato Costa Valladares - Matemático
Renato J. Costa Valladares, Professor e Escritor, é Doutor em Ciências e Mestre em Matemática.

RIO DE JANEIRO [ ABN NEWS ] – Como todos sabemos bem há grandes dificuldades na compreensão da Matemática. São dificuldades cumulativas em que o estudante perde o rumo. Sente-se frente a um tema árido e difícil. Não entende o porquê de “tanta complicação”. Fica desmotivado e estuda cada vez menos. As consequências são graves e duradouras. Resultam numa formação matemática deficiente que prejudica o cidadão pelo resto da vida.

Muitos estudantes sentem dificuldades ainda nos cursos fundamental e médio e tomam rumos profissionais que não exigem Matemática . Outros conseguem entrar na Universidade, mas já nos períodos iniciais começam a sentir dificuldades que antes não tinham. Há boas instituições de ensino que oferecem uma formação matemática adequada ao Vestibular. Mas esta formação pode não ser suficiente para o aluno compreender Cálculo, Álgebra Linear e outras matérias ministradas em certos cursos superiores. Como consequência estes universitários repetem matérias, atrasam a formatura, abandonam ou trocam o curso escolhido.

Outros sentem o prejuízo mais tarde. A vocação os encaminhou para profissões em que não se estuda Matemática. Mas a procura de um emprego pode recolocar o problema, pois não são poucos os concursos que exigem Matemática ou Pensamento Lógico, de candidatos com qualquer formação universitária.

Preocupado com problemas deste tipo, o autor deste artigo vem desenvolvendo pesquisas há 15 anos que mostram que parte expressiva do conteúdo matemático estudado nos níveis fundamental, médio e superior integra a cultura geral do cidadão comum (eu, você, a vizinha, o carteiro, etc.). Está na linguagem corrente, no esporte, no dinheiro, nos hábitos que cultivamos e na vida que levamos.

Por exemplo, imaginemos que alguém comente que Francisca é 3 anos mais nova que José. Se soubermos que José tem 14 anos, concluiremos que Francisca tem 11. É uma conclusão fácil que recai na subtração mental 14 – 3 = 11. Como Francisca é “mais nova” e como “mais” indica soma, cabe a pergunta:

Por que subtraímos em vez de somar?

Sob o ponto de vista de nossas pesquisas, esta pergunta pode ser respondida de modo a levar naturalmente o estudante aos Números Relativos, um tema crucial que é considerado “difícil”. Há razões para acreditar que muitos estudantes fiquem motivados quando virem que o “tema difícil” começa com uma conta “de cabeça” devido a um simples comentário.

As dificuldades existem. Fração, Álgebra, Geometria, Vetor, Função, Equação, Progressão, Matriz, etc. Quase tudo é “difícil” em Matemática. Entretanto nossas pesquisas mostram que muitas dificuldades podem ser minoradas com motivações adequadas.

Para fazer a motivação chegar aos interessados há muitos recursos. Um deles é escrever artigos como este, que se destina a pessoas comuns como as que foram citamos acima. Outro recurso é escrever material mais específico destinado a professores e demais interessados. Este é o caso de vários artigos que aparecem no Portal Matemática.