Renato J. Costa Valladares, Professor e Escritor, é Doutor em Ciências e Mestre em Matemática.
NITERÓI [ ABN NEWS ] — Há um consenso geral sobre a fragilidade do partido político no Brasil. Com as exceções de praxe o cidadão não tem grande entusiasmo pelos partidos. Para contornar este inconveniente o eleitor mira o candidato que por algum motivo o impressionou e vota nele. Se for um candidato a prefeito, governador ou presidente há um único vitorioso que só recebe os votos dirigidos a seu nome. Desta forma o eleitor identifica seu candidato.
Na eleição legislativa a situação é diferente. Uma das diferenças se refere a votos que não forem usados pelo respectivo candidato. Isto ocorre em dois casos. O candidato pode ter sido bem votado, elegeu-se e obteve votos excedentes. No outro extremo, o candidato ganhou poucos votos e não teve chance de se eleger. Nas duas situações os votos não usados são repassados pelo partido para completar o número necessário à eleição de candidatos do mesmo partido. A prioridade é a maior votação obtida por cada candidato que precisa deste recurso.
Pode também se dar o caso do candidato se eleger e ser convidado a ocupar um cargo em ministérios, secretarias e similares. Nestas e em outras situações o eleitor perde de vista seu candidato e mais dia menos dia o esquece. Como os partidos são fracos o eleitor perde sua referência política, causando os enormes problemas que conhecemos bem. Até hoje não se conseguiu solucionar este problema.
A situação é difícil e é necessário melhorar. Para achar esta melhora é bom olhar ao redor para ver um caminho a seguir. Uma maneira de iniciar este trabalho é olhar o binômio “indivíduo versus instituição”. Os candidatos (indivíduos) atraem o eleitor, mas de acordo com o que vimos acima falta a instituição (partido) que dê solidez ao pensamento político que nortearia os cidadãos, dentre eles o próprio candidato.
Para efeito de comparações podemos pensar nos atletas que muito fazem em favor de seus clubes. Os torcedores os reverenciam, mas o clube sempre está em primeiro lugar. Isto acontece com Futebol, Voleibol, Basquete e outros esportes. Acontecem também em escolas de samba, universidades, colégios, blocos carnavalescos e similares. Isto é bom para as instituições, para os que trabalham lá e para usuários, como torcedores, frequentadores, estudantes, etc.
A solução é aumentar a força dos partidos para superar a força do candidato. Eu não sei fazer isso, mas acredito que alguma coisa boa pode surgir no conhecimento básico ensinado aos estudantes. Imagino um projeto de médio prazo como será explicado adiante.
Embora eu acredite que todas as áreas do conhecimento tenham propostas importantes a oferecer ao projeto, vou me limitar a alguns aspectos matemáticos que possam despertar interesse no estudante.
Muitos eleitores não gostam do repasse de votos, de um candidato para outro, que falamos acima. Acham incorreto votar no candidato A e o voto eleger B. Este é um assunto delicado. Se este procedimento não existir, o candidato se limita exclusivamente a seus votos. Isto reduz a integração entre o indivíduo (candidato) e a instituição (partido) e já se sabe que isto não é bom.
Por outro lado há a proposta de um sistema de lista de candidatos escrita pela cúpula de cada partido. Neste caso o eleitor não pode escolher seu candidato. Isto é, ele perde o direito de votar em um candidato. É a clássica eleição indireta que no regime militar impedia o eleitor de votar no governador e no presidente. Os proponentes das listas pretendem fazer as mesmas coisas, no legislativo. Não foi bom no regime militar e não será bom agora.
Há muitas ideais em andamento. Repasse de votos recebidos, de uns candidatos para outros, atendendo certas condições; criação de distritos eleitorais etc. Ao que tudo indica o Brasil terá uma reforma política. Esperamos que seja bem feita. Esperamos que cada cidadão tenha seus candidatos e seus partidos e que sempre exija o melhor de ambos. Será ainda melhor se partidos e eleitos atenderem os reclamos dos eleitores.
Para equilibrar as necessidades de “indivíduo versus instituição”, o voto deve ser dirigido ao candidato e, em condições aceitas pela média dos eleitores, repassado a seus correligionários. Isto certamente dará origem a um sistema de valorizações ou desvalorizações de voto.
O distrito eleitoral é uma proposta para ajudar o equilíbrio acima. Trata-se de uma unidade político/territorial, medida por recursos similares a valorizações ou desvalorizações acima. Vários tipos de quórum contam votos – números inteiros. E os quantificam por frações. Como é de esperar, nos cálculos aparecerão números fracionários. Isto precisa ser adaptado aos votos. É necessário embasar a adaptação usando padrões matemáticos adequados, tal como as valorizações acima.
Boa parte deste embasamento está ao alcance de estudantes do nível básico. O professor, habitualmente solícito, não negará sua participação e empenho para os alunos avançarem em seus estudos. Se for necessário trocar ideias com colegas ou frequentar um curso, farão isto com prazer. Tudo isso será possível se houver as necessárias condições.
É claro que uma criança não vai escrever leis. Entretanto ao fazerem estudos fundamentais sobre um tema crucial, os estudantes verão que a Matemática é muito mais importante do que eles supunham. Isto motivará as crianças e dará prestígio aos professores. Estes recursos são importantes nos processos de ensino e aprendizagem.
Políticos dedicados ao tema seriam bem vindos, pois professores e alunos teriam a oportunidade de perceber o ponto de toque de cada assunto, sob um ponto de vista diferente das rotinas escolares.
Se o leitor quiser pode falar com o autor pelo e-mail rjcvalladares@gmail.com ou acessar o seu perfil no Facebook