Raciocínio e Eleitores

Renato J. Costa Valladares

 

 

 

 

 

 

 

Renato J. Costa Valladares, Professor e Escritor, é Doutor em Ciências e Mestre em Matemática.

 

RIO [ ABN NEWS ] — Nas últimas semanas nós todos participamos de um fato de suma importância. A democracia entrou em nossas vidas perguntando a cada um de nós quais eram nossos candidatos. No segundo turno as respostas afirmativas foram dadas por 105 milhões de eleitores. Como os votos nulos, brancos e similares também têm significados, vemos que a democracia teve uma vitória de respeito. Ótimo!

Um fato que me chamou atenção foi o raciocínio dos eleitores que está cada vez mais apurado. Para fugir de meras suposições e procurar algum embasamento factível eu observei o procedimento de candidatos. Embora isto esteja longe de ser uma pesquisa deu-me informações suficientes para escrever este artigo. Isto é bom porque sempre há a possibilidade de algum pesquisador do assunto gostar da ideia e fazer coisa melhor.

Como a pessoa mais importante que ganhou as eleições foi a presidente Dilma Rousseff, usarei palavras e silêncios dela para relacionar estes procedimentos com o andamento e a conclusão das eleições.

Começando por palavras, a então candidata criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que há muitos anos atrás usou palavras inadequadas ao falar sobre aposentados. Entretanto algum tempo depois, o mau humor de FHC foi superado por tributos cobrados pelo presidente Lula. Isto retirou (e ainda retira) dinheiro de aposentados. Obviamente as palavras inadequadas de FHC eram muito melhores que as cobranças (em dinheiro) impostas por Lula. Por este motivo Dilma estava atacando a si própria. Este fato causou surpresa e eu publiquei um artigo na ABN NEWS de 15 de outubro passado.

Coincidência ou não a partir da fala de Dilma as pesquisas passaram a mostrar crescimento na candidatura Aécio Neves.

Dias depois a candidata falou sobre procedimentos corruptos, cometidos por correligionários de Aécio. Ela citava um caso, acusava nomes e erros e terminava dizendo que os responsáveis estavam “todos soltos”. Citava outro caso, fazia a mesma coisa e assim por diante.

Cometia assim mais uma falha contra si mesma. Prender alguém é um processo que envolve a Justiça e outras instituições. Assim se os suspeitos estão “todos soltos” é por que estas instituições ainda não estão convencidas que os casos são de prisão.

Em contrapartida há correligionários da presidente que estão presos devido a culpas no mensalão e no “petrolão”. Como a Justiça e demais órgãos são os mesmos nos dois grupos de correligionários é claro que os de Aécio não têm culpa ou, na pior das hipóteses, as culpas ainda não estão provadas.

Mais uma vez os raciocínios de eleitores funcionaram e mais uma vez as pesquisas indicaram crescimento de Aécio. Coincidência?

Nos últimos dias da campanha eleitoral houve um debate. Aécio pediu que Dilma se pronunciasse sobre o mensalão. Ela fez um breve silêncio, mudou o assunto e não deu a resposta. Ela não negou a resposta somente a Aécio. A negação atingiu todos nós.

Como era de esperar, na manhã das eleições as pesquisas davam como indeterminada a posição dos candidatos. Havia um empate técnico que só foi esclarecido depois da abertura das urnas. O percentual de votos dos candidatos tinha a dimensão de um empate técnico. A diferença era que estes números eram a contagem dos votos. Como sabemos a presidente Dilma foi reeleita.

Ao ter certeza da vitória ela disse em público que não tolerava a corrupção e que não deixaria pedra sobre pedra para os corruptos. Enfatizou dizendo que isto seria feito doesse a quem doesse.

Quando ouvi isso perguntei a mim mesmo. Doer em quem? Os presos do mensalão sentirão esta dor? Dois dias antes ela havia nos negado esta informação. Será que a vitória apertada – quase derrota – mostrou a ela a necessidade de dar, a nós povo, a informação que nos é de direito? Que destino será dado a braços indevidamente erguidos?

O erguer destes braços desrespeitou um símbolo universal que pode ser usado por uma criança que tirou nota alta na escola; por um doente que superou seus males e – por que não? – um gesto legítimo que a presidente pode ter feito ao comemorar sua vitória nas urnas.

As perguntas são muitas e as respostas são difíceis. Por um lado a presidente está cercada por correligionários inadequados. Alguns estão na cadeia, mas ainda mandam muito. Por outro lado ela está frente a frente com um povo que sabe raciocinar, sabe exigir suas prerrogativas e merece todas elas.

Sabemos qual é a escolha certa, mas é a presidente que vai escolher. É uma escolha difícil, mas as forças políticas podem ajudar. A imprensa e os institutos de pesquisa de opinião também podem.

Para efeito de raciocínio imaginemos um destes institutos perguntando a pessoas aleatórias se a presidente deve ou não se posicionar frente ao mensalão e problemas similares. Se houver uma demanda forte ela se sentirá apoiada para tomar a melhor opção.

Se o leitor quiser pode falar com o autor pelo e-mail rjcvalladares@gmail.com

 

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